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Como afinar o violão sozinho em 7 passos?

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Guia de Conteúdo

Um violão possui seis cordas, numeradas da mais aguda para a mais grave. Cada corda possui uma nota na qual é afinada, que foi o resultado de uma herança dos instrumentos antecessores do violão, como o Alaúde Renascentista e a Guitarra Barroca. No processo histórico de conseguir uma relação entre as cordas que propiciasse equilíbrio entre graves e agudos, boa sonoridade, facilidade de tocar e que fosse possível num instrumento com as dimensões do violão, chegamos à seguinte configuração:

(1) Mi, (2) Si, (3) Sol, (4) Ré, (5) Lá, (6) Mi.

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Essa sequência é consagrada e estabilizada há mais de dois séculos, fruto de muitos séculos anteriores de experimentação.

Além disso, o violão possui um braço onde estão colados trastes de metal, posicionados para variar cada uma dessas cordas de semitom em semitom, ou seja, dentro da escala musical ocidental. Mas, como vimos, deve-se definir que tipo de “ajuste” essa escala possui. E, no violão, esse ajuste é o do temperamento igual.

Existem muitos equívocos que podem ser cometidos ao tentar afinar um violão. Por isso, vamos listar algumas observações importantes:

1) Não afinar o que não deve ser afinado

A escala do instrumento, a posição dos trastes no braço, foi dimensionada para ser uma escala temperada, num sistema de temperamento igual. Ou seja, exceto as oitavas, todos os demais intervalos devem ficar desafinados. Se você afinar perfeitamente uma terça, por exemplo, de acordo com os intervalos naturais, alguns dos outros intervalos vão ficar insuportáveis.

Ao tocar um acorde de Mi Maior, e tentar afinar a terceira corda para o Sol sustenido soar perfeitamente, isso vai geral maiores desafinações em outros acordes. A terça natural é 0,8% mais grave que a temperada. Ou seja, a terceira corda vai ficar mais grave do que deveria.

2) Usar apenas uma corda de referência

Uma outra consideração é que é necessário usar sempre uma mesma corda base para afinar as demais.

Por um motivo simples: não propagar o erro.

Digamos que você tome como base a sexta corda, e resolva afinar as outras. Para isso, usa aquele método famoso e muito difundido: apertar a 6ª corda na casa 5 e comparar com a 5ª corda. Depois, apertar a 5ª corda na casa 5 e comparar com a 4ª corda. Apertar a 4ª na casa 5 e comparar com a 3ª corda. A 3ª corda na casa 4 e comparar com a 2ª. E, finalmente, apertar a 2ª corda na casa 5 e comparar com a 1ª. Porém, esse método é altamente desaconselhado.

Ao afinar cada corda com base na anterior, você corre o risco de propagar qualquer erro cometido de uma corda para outra. E mesmo acumular erros a ponto de gerar uma grande desafinação no final.

O ideal é usar uma única corda de referência, e comparar todas as demais a ela. Vamos descrever dois métodos de afinação adequados, dentre diversos possíveis:

1º Método) – Afinar a 5ª corda, Lá, através de um diapasão, ou de alguma referência externa confiável.
Corda 6: afinar a 6ª corda (Mi grave) presa na casa 5, comparando com a 5ª corda solta.
Corda 4: afinar a 4ª corda solta, comparando com a 5ª corda presa na casa 5.
Corda 3: afinar a 3ª corda presa na casa 2, comparando com a 5ª corda solta (ou com o seu harmônico oitavado da casa 12).
Corda 2: afinar a 2ª corda solta, comparando com a 5ª corda presa na casa 2 (ou com o seu harmônico oitavado produzido na casa 14 mantendo a casa 2 apertada).
Corda 1: afinar a 1ª corda presa na casa 5, comparando com a 5ª corda solta (ou com o seu harmônico oitavado produzido na casa 5).

2º Método) – Afinar a Corda 1 presa na casa 5, através de um Lá de referência externa confiável.
Corda 2: afinar a 2ª corda pelo harmônico na casa 12, comparando com a 1ª corda presa na casa 7.
Corda 3: afinar a 3ª corda pelo harmônico na casa 12, comparando com a 1ª corda presa na casa 3.
Corda 4: afinar a 4ª corda pelo harmônico na casa 5, comparando com a 1ª corda presa na casa 10.
Corda 5: afinar a 5ª corda pelo harmônico na casa 5, comparando com a 1ª corda presa na casa 5.
Corda 6: afinar a 6ª corda pelo harmônico na casa 5, comparando com a 1ª corda solta.

Dessa forma, temos uma afinação teoricamente correta, usando uma única corda de referência. Além disso, são respeitados outros princípios importantes: utilizar somente harmônicos de oitava e nunca comparar duas cordas presas. Mas talvez ainda seja necessário fazer ajustes, devido à deformação das cordas.


3) Fazer ajustes devido à deformação das cordas (se necessário)

Teoricamente, afinando como explicado acima, teríamos os intervalos da escala temperada, todos imperfeitos em relação aos naturais, mas suportáveis, exceto o intervalo de oitava que é perfeito. Porém, mesmo usando todos esses conhecimentos, existe um fator de complicação a mais, que pode nos obrigar a fazer pequenos ajustes: a deformação que as cordas sofrem ao serem apertadas.

Essa deformação gera desvios muitas vezes imprevisíveis, e exige que sejam analisados caso a caso de acordo com a corda e o instrumento que se possui.

Reparem que, quando soltas, as cordas possuem comprimentos iguais, delimitados pela pestana e pelo rastilho do violão. Porém, ao apertarmos uma delas, a estamos esticando, tornando-a um pouquinho mais comprida. Algumas cordas, como a sexta, ficam a uma distância maior do braço do violão do que outras. E, quando apertadas, esticam mais.

A primeira corda sofre menos deformação que a sexta, por esse mesmo motivo. Mas, cada corda pode se comportar diferentemente na sua deformação também pelo fato de terem espessuras, afinações e composições diferentes.
As cordas do violão são de espessuras e materiais diferentes. Algumas têm cobre, outras somente nylon. Isso quando não se usa cordas de aço, carbono ou tripa. Mesmo os nylons podem ter composições químicas um pouco diferentes. E isso faz com que cada corda tenha um comportamento diferente ao ser apertada e consequentemente deformada.

A terceira corda (Sol), de nylon, é famosa por ser difícil de afinar. Se afinarmos a corda solta exatamente no Sol temperado, as notas em posições mais agudas nessa corda podem soar com afinação alta demais devido à deformação. Daí, pode-se solucionar isso abaixando um pouco a afinação da corda Sol. De certa forma, pra alguns acordes como o Mi Maior na primeira posição, isso também vai aliviar a diferença da terça Mi-Sol#, que é aguda demais na escala temperada. Mas pode prejudicar outros que precisem da corda Sol solta.

4) Não comparar duas cordas presas

Pelo problema da deformação, não é indicado comparar duas cordas presas. Ao prendermos uma corda ela já se deforma de forma imprevisível. Ao prendermos duas, temos um problema ainda maior. O ideal é usar sempre uma corda solta e uma presa. Se usarmos duas cordas soltas e afinar pelo ouvido, a nossa tendência vai ser sair dos intervalos temperados. Se usarmos duas cordas presas, temos o problema descrito acima. Ao usar uma corda solta e uma presa, restringimos o problema da deformação, e utilizamos as notas do sistema temperado.

5) Tomar cuidado com harmônicos

Afinar por harmônicos, encostando o dedo de leve em certas posições da corda e fazendo soar notas da sua série harmônica, é extremamente perigoso. Estariam sendo utilizadas notas do sistema natural de uma corda, para afinar um instrumento no sistema temperado, causando uma grande mistura. Cada corda gera uma série harmônica diferente, e esses harmônicos não servem de base de comparação pra afinar. A única exceção seriam os harmônicos de oitava, que podem ser utilizados sem problema, pois as oitavas do sistema temperado são exatamente iguais às oitavas naturais.

Não seria adequado usar o harmônico da sétima casa, por exemplo. Esse harmônico gera uma quinta que é 0,1% mais aguda que a quinta temperada. Assim, se afinamos comparando os harmônicos da quinta e sétima casa, o que é uma pratica comum, temos um resultado impreciso.

Porém, é necessário observar que alguns músicos, cientes desse fato, utilizam essa afinação por harmônicos e quintas, reduzindo posteriormente os intervalos a fim de compensar esses 0,1% e voltar à afinação temperada. Seria uma forma de usar somente cordas soltas, evitando o problema da deformação. Porém, para isso, necessita-se de um ouvido refinado, pois o ajuste é de somente 0,1%. É um procedimento muito delicado, portanto.

6) Não tentar eliminar todos os batimentos

Quando dois sons operam em frequências iguais, ou múltiplas, eles soam muito bem juntos. Porém, se existir algum pequeno desvio na afinação, você poderá ouvir uma espécie de oscilação no som ao tocar as duas notas juntas. Como se fosse uma sirene bem suave. Essa oscilação é chamada de batimento. Quando se ouvem batimentos, é sinal de que as notas estão desafinadas entre si.

Os batimentos podem ser muito úteis, pois é mais fácil ouvi-los, em alguns casos, do que perceber a desafinação entre duas notas. Aí, eliminando o batimento, eliminamos a desafinação.

No caso do violão, devido à escala temperada, só se pode usar os batimentos quando está se comparando duas notas iguais, ou oitavadas, Se quisermos eliminar os batimentos de um intervalo de quinta, por exemplo, estaremos desafinando os outros intervalos.

Ou seja, em todos os intervalos, menos nos uníssonos e nas oitavas, vão, e devem, haver batimentos. Mas contente-se que pelo menos nenhum vai uivar como um lobo!

7) Saber usar afinadores eletrônicos

Usar um afinador eletrônico para afinar as 6 cordas soltas seria teoricamente ideal. O afinador já está regulado pela escala temperada, e garantiria uma afinação precisa. Porém, existem dois problemas:

– Se uma música tem uma característica especial de exigir certos intervalos, e não exigir outros, pode ser teoricamente possível ajustar a afinação de alguns intervalos em determinadas posições do braço do violão para soarem mais naturais. Aí, o afinador não ajuda e é necessário usar somente o ouvido.

– A deformação das cordas pode exigir que um pequeno ajuste seja feito a fim de alinhar a afinação de forma geral. Aí, o afinador pode servir de base, mas será necessário fazer esse ajuste pelo ouvido.

Ou seja, é preciso saber usar o afinador dentro das limitações que ele possui. E tenha consciência de que será necessário um ocasional ajuste de acordo com o que se deseja na afinação.

Considerações Finais

Chegamos à conclusão de que é impossível afinar perfeitamente um violão. Em primeiro lugar, porque a escala temperada é uma escala com diversas desafinações na sua própria concepção.

Em segundo lugar, porque a deformação das cordas vai acabar fazendo algumas notas saírem do ajuste ideal, mesmo temperado. Alguns instrumentos são construídos com trastes, rastilhos e pestanas posicionados de forma a tentar compensar essa deformação, o que é uma grande ajuda, mas não conseguem eliminar completamente esse problema.

Em terceiro lugar, o próprio instrumento pode ter problema de afinação. Para conferir se existe esse problema, compare os harmônicos da casa 12 com as notas presas nessa mesma casa. Se existir uma diferença consistentemente presente em todas as cordas, é sinal de que a construção do instrumento não foi precisa, ou que o braço está empenado, torto.

Afinar é saber pesar beleza e utilidade. Muitas vezes, temos que abrir mão de um pouco da primeira em prol da última. Ou seja, concordar em desafinar e tornar menos belos alguns intervalos a fim de poder utilizar o instrumento em determinadas situações. É uma solução de compromisso, que exige mais do que máquinas para se resolver, mas necessita de ponderação, maturidade musical, um bom ouvido e saber o que se quer buscar como resultado sonoro em cada situação.

Compartilhe esse conteúdo com quem está começando a tocar violão e ajude-os a ter sucesso nessa empreitada!

Thiago Silva
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Sou um apaixonado por violão e guitarra. Amo música e tudo envolvido. Já fiz cursos e toco violão desde os meus 15 anos.